📺 Instagram TV - Sucesso Lento ou Flop ?
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É verdade que o Instagram nunca falhou em nada do que apresentou, mas a julgar pelo modesto número de contas iniciais, o IGTV – ou Instagram TV – pode ficar com a reputação de um teatro abandonado se a gigante tecnológica não tiver cuidado.
Não sendo ainda um flop, o IGTV também não foi um sucesso instantâneo como aconteceu com as histórias do Instagram. Dois meses depois do lançamento, em 2016, este formato que clonou completamente o Snapchat já tinha atingido a marca dos 100 milhões de utilizadores. No entanto, dois meses depois de lançar a IGTV, a empresa detida pelo Facebook ainda se mantém em silêncio sobre o balanço da funcionalidade.
“É um novo formato. É diferente. Temos de esperar que as pessoas o adotem, e isso leva tempo”, diz o CEO do Instagram, Kevin Systrom. “Pense desta forma: acabamos de investir numa startup que se chama IGTV, mas é pequena como o Instagram era no início”, justifica.
De facto, ainda é cedo para uma análise científica e o Instagram surgiu em 2010, logo não será uma comparação justa. Mas se olharmos para várias contas dos criadores-parceiros do IGTV, percebemos que os seus vídeos no feed estão a ter quase sete mil vezes mais visualizações que os posts nesta funcionalidade. E se estas pessoas beneficiaram de acesso prioritário e acompanhamento e mesmo assim não têm muito sucesso, imaginemos o que acontece a contas ditas normais.
Assim, criadores e IGTV têm de trabalhar para gerar uma audiência constante. Para a aplicação, tal está a demonstrar-se difícil. Nos Estados Unidos, apesar de ter chegado a número 25 das apps mais usadas e aos 2,5 milhões de downloads nos sistemas iOS e Android, passou rapidamente para número 1497 e as instalações semanais desceram 94%.
O Instagram terá ainda de percorrer um longo caminho se quer ganhar no formato de vídeo longo. Entrar no mercado 13 anos depois do Youtube com um formato vertical e em que ninguém sabe muito bem o que fazer, não é de todo um cenário favorável.
Se puder evitar ser totalmente esquecida, e oferecer os incentivos corretos e flexibilidade aos criadores, a IGTV pode oferecer aos utilizadores uma experiência de visualização de vídeos espontâneos que o Instagram não tem. Se assim não for, podemos estar a assistir ao declínio do próximo Google Plus – que é hoje uma verdadeira cidade fantasma.
Um começo chamativo mas enganador
O Instagram organizou uma estreia de passadeira vermelha no dia 20 de junho, esperando que a IGTV fosse realmente o novo hotspot digital. O lançamento, que ocorreu em São Francisco, inclui a oferta de vários tipos de torradas com abacate e águas minerais aos convidados, num evento totalmente direcionado para millennials. Desde 2013, quando lançou a função de publicar vídeos, que a empresa norte-americana não organizava um certame tão mediático. Esculturas de balões à entrada, uma casa cheia de estrelas das redes sociais e executivos fizeram a festa.
Mas o processo estava tremido desde o início. Antes do lançamento, já havia notícias que falavam no nome da aplicação e detalhes sobre a mesma. Houve dificuldades técnicas na apresentação, o lançamento chegou a ser antecipado e até no blog do Instagram foram revelados detalhes sobre o evento. A internet já sabia que o IGTV ia permitir às pessoas fazer o upload de vídeos verticais, com a duração máxima de uma hora, e que podiam pesquisar nas categorias “Popular” e “Para ti”.
O lançamento da IGTV incluiu donuts personalizados e zonas de fotografias altamente partilháveis. Images via Vicki’s Donuts and Mai Lanpham.
Systrom, CEO do Instagram, chegou a afirmar que estava muito orgulhoso pelo facto de lançar algo absolutamente novo. “Vídeo vertical, em écran completo e apenas em telemóveis. Isto não existe em mais lado nenhum”, disse.
Efetivamente, o plano era ambicioso. Os utilizadores já estavam habituados a fazer vídeos nesse formato no Snapchat quando o Instagram apresentou a sua própria versão das histórias. A IGTV tinha de começar do zero.
O homem forte da app vê a curva de aprendizagem como um factor diferenciador, no entanto. “Uma das coisas que mais me agradam neste formato é que (...) isto incentiva as pessoas a produzirem coisas novas desde o início. Mesmo que o volume de vídeos seja inferior ao que vemos na página de vídeos populares”, justifica Systrom.
O Instagram forçou os utilizadores a adotar este formato, mas esqueceu-se de ‘treinar’ as estrelas das Histórias como entreter a audiência durante cinco ou 15 minutos, em vez dos habituais 15 segundos, ou de convencer os magnatas do Youtube a propositadamente filmarem ou fazerem crop aos clips do mesmo modo com que normalmente seguramos os nossos telemóveis.
( A página de vídeos populares da IGTV está cheia de vídeos virais e aleatórios, conteúdo estrangeiro e crops muito pobres )
Isto devia ter sido o propósito real da festa de lançamento: demonstrar a variedade de formas de se tornar este formato algo restrito em conteúdo único.
Os vídeos verticais enquadram melhor as pessoas que os ambientes, e a altura permite uma melhor conexão entre os olhos e as lentes. Mas o pouco volume de conteúdo e a confiança em que os criadores do mesmo iriam descobrir isto por eles próprios arrasou até a possibilidade de os videógrafos arriscarem.
Agora a IGTV parece estar comprometida, com vídeos virais de fraca qualidade e mal adaptados ao formato na secção popular misturados com alguns utilizadores a tentarem criar talk shows ou tutoriais de cozinha. Até uma entrevista com a celebridade Kylie Jenner só rendeu 11 mil visualizações.
O Instagram quer colocar o foco no autor, não em obras de arte individuais. Systrom explica: “Como não temos pesquisa por texto, e não se pode apenas pesquisar por algo aleatório, está tudo focado nos criadores de conteúdos”. “Penso que neste nível a evidência está nas personalidades e nos criadores, o que significa que vamos ter conteúdo realmente único e que não se encontra em mais lado nenhum. Este é o objetivo”, continua.
No entanto, ser realmente único requer esforços extra que os utilizadores podem não querer fazer – porque não têm certezas sobre o retorno e o alcance que podem alcançar. Michael Sayman, que já foi o funcionário mais jovem do Facebook ao ser contratado com apenas 17 anos para desenvolver apps para teenagers e que agora trabalha na Google, resume tudo isto de forma simples. “Muitas vezes na minha carreira tentei fazer algo único e diferenciador, porque sentia que era a única forma de me destacar na multidão. Com isso, só percebi que estas características fizeram com que os meus produtos parecessem estranhos e confusos aos utilizadores. Por vezes, o melhor produto é aquele que não é novo nem diferente, mas que é um aperfeiçoamento do que já existe e que já se provou que tem sucesso”.
Uma fração dos vídeos do feed
A principal dúvida no evento de lançamento foi onde é que a IGTV iria existir.
O Instagram anunciou que ela iria ter a sua própria aplicação, mas também iria estar dentro da app principal e acessível através de um botão cor de laranja no topo da página principal – que ocasionalmente tem um alerta para novos conteúdos
Apesar de tudo isto, nada resultou. A IGTV não beneficiou do facto de estar em destaque na página de entrada do Instagram, como as Histórias. Ignorando o botão e evitando fazer o download da aplicação em separado, os utilizadores continuam a fazer likes com dois toques e a passar pelo feed sem se cruzarem com os vídeos mais longos da IGTV.
As visualizações das contas dos parceiros de lançamento refletem isto mesmo, olhando para seis dessas contas e comparando os seus últimos posts e vídeos na IGTV com mais de uma semana e menos de seis meses.
Uma das parceiras da IGTV é BabyAriel, e a única que realmente viu um crescimento na sua conta. Os seus monólogos estão a render-lhe cerca de 243 mil visualizações, praticamente um terço das que consegue ter nos vídeos do feed. A jovem afirma que se sente feliz, pois a aplicação está apenas a começar, e pensa que o formato será bom fazer clips sobre o que se passa atrás das câmaras nas preparações para os seus vídeos do Youtube e pequenas Histórias.
Lele Pons, comediante latino-americana e estrela musical, é uma das celebridades mais populares do Instagram e tem quase seis vezes mais visualizações no feed do que no programa de culinária na IGTV. Até agora, o seu vídeo mais visto teve 4,3 milhões de visualizações – menos de metade do que alcança com vídeos no feed.
Mais uma vez, isto não quer dizer que a IGTV tenha sido uma aposta perdida. Simplesmente não teve o impacto que era esperado, mas Systrom continua otimista acerca da invenção deste novo formato.
O youtuber Casey Neistat está menos confiante, diz que a IGTV não está a funcionar e que o engagement é muito fraco. Se as visualizações nesta plataforma fossem superiores às do Youtube os criadores migrariam, mas até agora os números não são inspiradores. Um dos problemas, diz Neistat, é que os conteúdos produzidos são pouco vistos não trazem dinheiro.
Em resumo:
Por agora, a combinação entre um formato pouco familiar, a ausência de direções sobre como usar a aplicação e a sua localização algo escondida tem caracterizado esta criação. Dois meses depois do lançamento, as histórias do Instagram já eram uma ameaça para o Snapchat, enquanto que agora a IGTV ainda não representa perigo para o Youtube.
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