🌴 O sobreturismo e como a tecnologia o está a potenciar
Categoria : Geral Visitas: 3195 Tempo de Leitura: 5 Minutos
Todos os verões, os destinos mais populares da Europa enchem-se de turistas, cujo número chega a superar o de residentes. As cidades tornam-se menos típicas e, um pouco por todo o mundo – graças à cada vez maior afluência -, as viagens tornam-se altamente partilháveis nas redes sociais. De acordo com a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas, viajar para destinos internacionais teve um aumento de 6% na primeira metade do ano, superando as expectativas dos especialistas.
Este crescimento pode ter sido, em tempos, considerado muito bom. Mas os destinos mais procurados pelos turistas não se conseguem expandir ao ponto de acomodar infinitamente os viajantes. Os mais céticos afirmam que a quantidade cada vez maior de visitantes está a alterar profundamente a personalidade e a aparência das cidades históricas, e a tornar as viagens cada vez mais difíceis.
“É um nível de turismo que está a degradar a satisfação dos residentes, mas também as experiências para os turistas. Tudo isto porque o turista que está constantemente em filas ou atrás de centenas de mochilas de outros turistas não está a descobrir verdadeiramente e autenticamente o local onde se encontra”, diz Justin Francis, CEO do Responsible Travel, uma empresa que organiza viagens sustentáveis para os clientes.
E de quem pode ser a culpa? Além da prosperidade global, a tecnologia tem um papel fundamental neste cenário.
Ao longo das últimas décadas, as inovações na aviação – aparelhos mais eficientes e o crescimento de companhias aéreas low cost – reduziram significativamente o custo de voar para qualquer destino. Os grandes navios-cruzeiro, capazes de transportar milhares de passageiros, agora levam cidades inteiras, e Veneza até já os proibiu. Depois, temos as maravilhas que a Internet permite, tais como fazer reservas online, reviews de restaurantes ou alojamentos, mapas no telemóvel, partilha de casas e muitas outras que, coletivamente, têm democratizado todos os passos que envolvem as viagens.
Finalmente, e tal como em muitos outros aspetos da vida atual, temos a influência inegável das redes socias.
“Não podemos falar de sobreturismo sem mencionarmos o Instagram e o Facebook. Estas plataformas fazem parte da direção que as tendências estão a tomar”, afirma Francis.
“Há 75 anos, o turismo era apenas procurar experiências. Agora, é usar as fotografias e as redes sociais para construir uma marca pessoal. Para muitas pessoas, as fotos que tiram numa viagem tornam-se mais importantes que a viagem em si”.
Desta forma, o sobreturismo tem tantas influências que é difícil fazer algo em relação a ele. Gerir um destino turístico é quase como gerir um recurso natural, como uma mina; um nível sustentável de turistas traz ganhos para a economia local, mas um exagero desse nível pode destruí-la. As cidades que estão a tentar controlar o número de visitantes que chegam devem fazê-lo de forma delicada, ao gentilmente desencorajarem algumas formas de viajar sem parecerem pouco hospitaleiras.
Tal leva-nos ao Airbnb, que tem sido um alvo para as leis europeias e um dos principais motivos do sobreturismo. Em cidades como Londres e Barcelona, as autoridades já estão a instituir leis mais estritas no que diz respeito ao aluguer de casas.
Os resultados mostram que o Airbnb tem crescido a olhos vistos. Em apenas poucos anos, a empresa já se tornou uma força muito significativa na economia turística de muitas cidades. Em Amesterdão, de acordo com a companhia, o Airbnb representa 12% das dormidas. Em Barcelona, esse número chega aos 18% de quota de mercado e em Quioto atinge os 22%.
Mas o Airbnb – que, tal como o Uber, se tem tornado veterano em combater leis que os tentam proibir por todo o mundo – não aceita ser a causa do sobreturismo e afirma que, em muitos casos, até é uma solução. No relatório sobre turismo saudável deste ano, a empresa incluiu vários gráficos que alegadamente demonstram, geográfica e economicamente, que o serviço que presta está a produzir experiências de viagens mais autênticas.
O Airbnb afirma que tal se deve ao facto de oferecer acomodação em todos os pontos das cidades e não apenas nos pontos de interesse, onde normalmente estão os hotéis, distribuindo assim as multidões de forma mais equilibrada.
Numa entrevista, o vice-presidente da companhia para os assuntos públicos também afirmou que o site beneficia as economias lociais mais diretamente que as cadeias hoteleiras.
“Os nossos anfitriões ganham 97% do valor que publicitam”, diz Chris Lehane. “Os hóspedes ficam mais tempo que os típicos hóspedes de hotel, e aumentam os ganhos da economia de forma transversal, de uma forma que não acontece com os hotéis”.
Um dos maiores problemas legais do Airbnb ocorreram em Barcelona, onde a empresa ainda está a negociar com as autoridades – e já aceitou remover milhares de anúncios que violavam as regras da cidade, bem como instalar um sistema para recolher as taxas e ajudar os anfitriões a cumprir os regulamentos.
Estes desafios não devem ficar resolvidos durante muito tempo, porque a tecnologia que os colocam em andamento está sempre em mudança. Um dos problemas mais recentes prende-se com o aumento de uma nova classe de anfitriões profissionais – pessoas que compram propriedades com o único propósito de as alugarem ou partilharem, muitas vezes contra as leis locais.
A empresa afirma estar a tentar acabar com este tipo de práticas, mas mesmo alguns clientes perguntam-se se as diligências estarão a ser suficientes.
Lehan conclui, dizendo que o problema é que há muitos anúncios de partilha de casas que não o são, na realidade. “Há pessoas que compram múltiplos apartamentos e registam-nos todos, o que realmente altera o caráter de uma cidade”, diz Jonathan Tourtellot, fundador do Sustainable Stewardship Center, um grupo sem fins lucrativos que promove o turismo sustentável. O Airbnb pediu a Tourtellot que escrevesse uma parte do relatório apresentado este ano.
A empresa de partilha de alojamento está ainda a enfrentar outros desafios: há mais competição nos dias de correm, com novos serviços muito semelhantes. As autoridades têm tido muitas dificuldades em policiar todas estas novas plataformas.
O crescimento tem sido global e sem interrupções. “No final de contas, o problema é apenas de números”, afirma Tourtellot. O especialista explica que em 1960, quando viajar de avião passou a ser mais regular, houve cerca de 25 milhões de viagens internacionais. No último ano, o número chegou aos 1,3 mil milhões.
Gostou do nosso Blog? Subscreva já!
Comentários
Artigos Relacionados
Categoria : Geral Catarina Sousa
10 dicas para trabalhar melhor a partir de casa
Com o aumento constante do número de casos de coronavírus, parece ser seguro que nos próximos mes...
há 4 anos | Visitas: 8925 | Leitura: 4 Minutos
Ler mais..Categoria : Redes Sociais Catarina Sousa
EUA querem banir a app TikTok
Alguns senadores dos Estados Unidos pretendem que o famoso TikTok seja banido no país – ou pelo m...
há 4 anos | Visitas: 7033 | Leitura: 3 Minutos
Ler mais..Categoria : Geral Catarina Sousa
Fake News: saiba como as detectar
Não há dúvidas de que a internet hoje em dia se divide muito entre o que são notícias reais, co...
há 4 anos | Visitas: 7568 | Leitura: 5 Minutos
Ler mais..